Bruno Fagundes fala de personagem na novela Volta por Cima e recusa rótulo de 'nepo baby'


Longe das novelas desde Cara e Coragem (2022), Bruno Fagundes (35) voltou à telinha da TV Globo na última sexta-feira, 6. Ele está no elenco de Volta por Cima, na pele do psicólogo Bernardo – peça-chave no tratamento de Cida (Juliana Alves), diagnosticada com síndrome do pânico na trama de Claudia Souto. Em conversa com a imprensa nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro, o ator comemora a nova etapa em sua vida profissional, conta como usou das próprias experiências pessoais com a terapia para compor o novo personagem e recusa o rótulo de "nepo baby", recentemente criticado por Fernanda Torres (59), filha de Fernanda Montenegro (95).
Bernardo entra na história de Volta por Cima com o objetivo de ajudar a motorista Cida, que desenvolveu o transtorno pós-traumático depois de descobrir que poderia ter dirigido um ônibus sabotado, desencadeando as crises que agora são abordadas na trama. Bruno acredita que, ao acompanharmos o processo terapêutico da personagem desde o início, alguns tabus sobre tratamento mental possam ser quebrados.

"Acho muito bonito ver esse processo terapêutico no início, onde uma personagem, de certa forma meio cética, está a fim de buscar ajuda. Acho muito interessante abordarmos esse tema dessa forma, porque eu vejo que a saúde mental ainda é tabu, ainda é um assunto que, de certa forma, as pessoas evitam falar ou não sabem muito como é que funciona", ressalta o ator.
O artista afirma que o personagem é seu presente de Natal antecipado. "Já é a minha segunda parceria com a Claudia Souto; a primeira foi em Cara e Coragem (em que interpretou Renan). Ela é não só uma autora que eu admiro muito, mas é um ser humano maravilhoso que eu não canso de elogiar. Por conta da nossa parceria em Cara e Coragem, uma novela longa, com personagem tão difícil, a gente criou uma relação de muita confiança. Então, estar em um outro produto com ela, é algo que me enche de alegria. Eu já era fã da novela, estava acompanhando, ficava namorando a novela de longe; e fazer parte disso é o presente de Natal que eu queria. Estou muito feliz", conta.
Bruno não teve tempo de se preparar para a trama, pois foi escalado poucos dias antes de começar a gravar. Ele, então, precisou buscar em seu próprio processo terapêutico a construção para o personagem. "O ator tem que estar o tempo todo estudando, se preparando. A ferramenta principal do ator é a observação. O meu terapeuta não sabe, mas eu o observo muito quando a gente conversa (risos). Sou o maior entusiasta da terapia. Acho que todo mundo tem que arranjar um jeito de fazer”, diz o artista, que faz análise há oito anos. “Faço de forma quase que ininterrupta. Durante a pandemia, foi uma ferramenta essencial para mim”, completa.
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MERCADO DE TRABALHO

Entre questões que Bruno já tratou com a ajuda de um profissional, está a rejeição no mercado de trabalho. "O ator ouve muito não. Na nossa vida, a exceção é o sim. Lidar com tudo isso é um desafio para um ator. Faz parte da profissão que é muito instável, assinamos em baixo; mas de certa forma ainda é um assunto que vem muito na minha terapia. Entender que os altos e baixos da profissão não tem a ver com você, mas com o mercado, a indústria, não é uma coisa pessoal", salienta.

O ator garante que nunca foi diagnosticado com depressão ou ansiedade, mas não nega ter passado por momentos melancólicos na vida. "Todo mundo tem o direito de se sentir mal ou não se sentir pleno e feliz o tempo inteiro. Já tive momentos mais melancólicos, e é importante enfrentá-los, olhar para eles”, pontua.

DESISTIR DA CARREIRA DE ATOR

Questionado se já pensou em desistir da carreira de ator, ele confessa: "Muitas vezes. É uma profissão ingrata, em certo sentido.
Muitas vezes, me perguntei se era o que eu queria fazer, se estava no caminho certo, se errei em alguma escolha do passado, mas aí vem algo que me faz ter a certeza de que esse é o meu caminho. Acredito que minha profissão tem um caráter de missão. Ser um contador de história, trazer assuntos importantes para o público através de uma novela, estar no lugar certo falando a coisa certa. Sou muito espiritualizado, acho que sempre tem uma forma bonita de colocar a gente no caminho onde a gente tem que estar”.

RÓTULO DE 'NEPO BABY'

Por ser filho de Antonio Fagundes (75), um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira, Bruno encara a pressão e a cobrança desde muito cedo em sua vida. Ele recusa o rótulo de “nepo baby", recentemente criticado por Fernanda Torres. "A partir da fala da Fernanda Torres, passei a olhar para isso de outra forma. Como pode alguém olhar para a carreira da Fernanda Torres, da grandessíssima atriz que ela é, com tantos personagens icônicos, e chamá-la de nepo baby? Claro que eu não estou me comparando com ela, tenho muito arroz e feijão para comer ainda, muito, mas tem um pouco esse ressentimento e acho que as coisas se misturam", declara.

"É ter consciência de onde você nasceu, da sua condição privilegiada, mas é importante a gente olhar para o que se faz a partir disso. A Fernanda Torres nunca baixou a cabeça para isso, foi atrás dos objetivos dela, ela se especializou, é uma atriz de talento imensurável, vide o que está acontecendo agora (possibilidade de Oscar para Agora Estou Aqui, filme estrelado pela atriz e por Selton Mello). Sinto orgulho. E eu tenho plena consciência do meu lugar de privilégio, mas o que fiz a partir disso é trabalho, trabalho. Escolhi o trabalho na minha trajetória", acrescenta.

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