Manuela Dias, autora de Vale Tudo: ela explica que nova versão reflete Brasil atual e diverso

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A escritora Manuela Dias esteve fortemente envolvida na seleção do elenco do remake de Vale Tudo junto ao diretor Paulo Silvestrini. Ela justifica a escolha das duas protagonistas negras, Raquel (Taís Araujo) e Maria de Fátima (Bella Campos), além de incluir outros atores negros em todos os elos da trama, que estreia nesta segunda-feira (31) na Globo.

De acordo com a autora, é essencial que a atualização da história traga uma nova perspectiva racial. "Eu considero que, desde 1988, passamos por um processo de aprendizado sobre problemas estruturais, como machismo, racismo e classismo. Atualmente, percebemos que, naquela época, apenas dois atores negros estavam presentes na novela. Naquela fase, nossa visão era de tal forma distorcida pelo racismo estrutural que se tornava até difícil perceber isso," explica.

Ter essa percepção é um grande avanço, afirma a autora. "Eu acredito que a Raquel sempre foi negra, certo? Naquele tempo, ela era vista como branca por conta da nossa limitação social de reconhecer e dar protagonismo a uma atriz negra," acrescenta, referindo-se à personagem que foi interpretada por Regina Duarte.

Para Manuela, o papel da televisão vai além do entretenimento; ele deve também moldar a sociedade, refletindo suas transformações e auxiliar na construção de novos valores. Por isso, ela defende que toda novela atualmente deve apresentar um elenco mais diverso. "A dramaturgia deve atuar como um meio de promover transformação social," ressalta.

Ela também enfatiza a relevância de retratar personagens negros em papéis centrais, algo que foi frequentemente esquecido no passado, mas que não é mais aceitável hoje em dia.

Prioridade ao interesse em vez do preconceito

Quando questionada sobre a relação entre Odete Roitman (Debora Bloch), uma mulher profundamente preconceituosa, e Maria de Fátima, Manuela revela como será a interação entre as duas.

"A Odete é pragmática e faz o que for necessário para alcançar seus objetivos. Ela vê Maria de Fátima como uma parceira ideal, até o momento em que descobre suas verdadeiras intenções. A conexão entre elas é intensa, e a grande desilusão de Odete surge ao perceber que Maria de Fátima a traiu," compartilha.

O remake de Vale Tudo, na visão de Manuela, representa uma chance de apresentar um Brasil que se aproxima mais de sua realidade, de forma inclusiva e sensível.

"Hoje, conseguimos identificar e estranhar comportamentos que eram naturalizados anteriormente, como o machismo e a violência contra a mulher. Isso é um avanço significativo," conclui a autora, lembrando que a questão do machismo causava choque em 1988.

Violência contra a mulher

Para ilustrar seu ponto, ela menciona dois personagens considerados do bem, Poliana, antes vivido por Pedro Paulo Rangel (1948-1922), e Afonso, interpretado por Cassio Gabus Mendes. Agora, Poliana será interpretada por Matheus Nachtergaele, enquanto Afonso foi interpretado por Humberto Carrão.

Todos os personagens, ou seja, 100%, incluindo Poliana e Afonso, [enfrentavam problemas]. Poliana costumava afirmar que iria agredir Aldeíde [Lilia Cabral no passado, Karine Teles agora], usando a expressão 'dar na cara dela'. Portanto, a questão da violência contra a mulher, na versão de 1988, é completamente aceita. E é ótimo que, atualmente, possamos estranhar essa situação e perceber o que realmente está ocorrendo.

Ela ressalta que diversos outros conceitos sociais e éticos, como a temática dos casais homoafetivos e do alcoolismo, passaram por grandes transformações ao longo desses 37 anos.